é paradigmática a propaganda daquela agência de viagens estrangeira incentivando que os casais jovens fossem tirar férias e fizessem sexo, sim desse jeito, para gerar filhos).
Aqui no Brasil essa tendência também aparece, mas apenas em 30~50 anos para frente; teremos um país de velhos justamente quando formos, você que lê e eu que escrevo, muito velhos. E enquanto isso tramita no congresso e na discussão civil o projeto de emenda constitucional chamado reforma da previdência, que vai simplesmente liquidar a previdência. Queria ter eu a austeridade da minha avó (que saiu do tratamento intensivo e aguarda cirurgia) para suportar envelhecer em um mundo que prefere esquecer-se de seus velhos.
De volta à ficção: este livro de fantasia medieval mistura influências e inclui entre seus personagens um guerreiro que, eu fui saber mais tarde, é inspirado em Beowulf; tem outro que é praticamente um Quixote com Parsifal ou qualquer outro cavaleiro do rei Arthur (efetivamente ele é um Cavalheiro do Rei Arthur). Lendo o livro uma melancolia suave me invadiu, ou eu que deixei que entrasse, mas que só me colocou em frente a outra coisa que o livro conta; a persistência do amor romântico; a duradoura e forte ligação de um casal que se ama até a velhice.
Isso parece banal, pode até parecer contraditório; e para mim é uma lição difícil entender quer um relacionamento possa ter durabilidade. Quer dizer, tempos líquidos, certo? Temos até aplicativo para buscar encontros. Mais ainda, tudo um dia vai acabar, que diferença faz um romance de 30 anos ou de 30 dias? Ou, coisa que sempre tive comigo: melhor intensidade, paixão do que chatice de rotina. Ainda assim, existe uma tênue diferença entre não acreditar em amor duradouro e lutar contra o amor duradouro — essa diferença é que estabelece se somos capazes, ou não, de aprender.
undefined
À parte às brigas de casais, o que quero dizer é que uma lição belíssima de paciência e entrega surge quando se atinge a compreensão do que seja um verdadeiro relacionamento íntimo; e não é somente baseado nesta leitura de O Gigante Enterrado que eu faço referência (quem assistiu Amour do Haneke vai saber do que estou falando. Ou ouviu a canção Jim Wise). E é nesta lição da paciência e da entrega que estão duas coisas que eu simplesmente sou incapaz de dominar, mas que agora são, impreterivelmente, parte da minha vida.
Quais os maiores arrependimentos dos centenários? Talvez eu nunca saiba senão em segunda mão, e você pode aprender um monte com os vídeos sobre este assunto que estão na internet, mas eu sei desde já que não participar de um amor tão grandioso, laborado e bem-cuidado como que eu posso viver hoje seria um destes arrependimentos.
À memória do Seu José