família de Festen, a premiada obra cinematográfica criada sob o dogma 95 do Lars Von Trier e companhia, mas existem muitíssimas mais. Muitas coisas se aprendem com estas famílias e aliviar-se porque não somos uma delas é apenas uma destas lições. Contingência é a palavra chave aqui: poderiam ser nós no lugar deles, assim como não poderiam. Nunca sabemos ao certo o peso que uma família carrega porque isso é absolutamente pessoal e, de um ponto de vista cósmico, não importa nem um pouco. Neste mesmo sentido copio e colo um capítulo de O Profeta de Khalil Gibran
E UMA MULHER que amamentava um bebê disse, “nos fale dos Filhos”.
E ele disse:
Seus filhos não são seus filhos.
Eles são os filhos e as filhas da ânsia da Vida por si mesma.
Eles vêm através de vocês, mas não de vocês,
E embora eles vivam ao seu lado, eles não pertencem a vocês.
Vocês podem lhes dar seu amor, mas não podem formar seus pensamentos,
Pois eles possuem seus próprios pensamentos.
Vocês podem abrigar seus corpos, mas jamais suas almas,
Pois suas almas residem na mansão do amanhã, que vocês não podem visitar nem mesmo em sonhos.
Vocês podem lutar para ser como eles, mas não procurem fazê-los como vocês.
Pois a vida não anda para trás e nem se demora com o ontem.
Vocês são os arcos dos quais suas crianças são arremessadas como flechas vivas.
O Arqueiro fita o alvo no caminho infinito; Ele os estica com toda a Sua força para que Suas flechas possam voar ligeiras, rumo ao horizonte.
Deixe que o seu encurvamento na empunhadura do Arqueiro seja a sua alegria; Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama da mesma forma ao arco que permanece estável.”
Gibran, Khalil. O Profeta . Textos para Reflexão. Edição do Kindle.
Esta semana eu assisti o filme que o Danilo me deu ainda em 2012 quando ele ainda era O Bucaneiro, um pirateador de filmes cuidadosamente escolhidos, e que foi o responsável entre outras coisas por me entusiasmar com o cinema; era o último filme de Béla Tarr, O Cavalo de Turim (2011) — um filme lento, em preto e branco, sobre a decrepitude e a solidão e a luta crua pela sobrevivência nascida da premissa de eventos reais — é a história fictícia do cavalo e do dono do cavalo de Turim na Itália que foi abraçado por Nietzsche por ocasião de seu colapso nervoso.
Este filme, do diretor húngaro tem algumas falas memoráveis pela sua dureza e cinismo em relação à humanidade, um quê de filosofia continental que encontramos nas obras do Emil Cioran, mas que não deixa de ser positivo em espírito, afinal, estamos a caminho não de um fim, mas sem dúvida de um recomeço. O velho dá lugar ao novo e neste novo mundo não há de haver espaço para egoísmo, segregação e políticas retrógradas. Mesmo a política já mudou e continuará mudando, logo mudará tudo, desde concepção de sociedade à concepção de humanidade, onde será, terá de ser, abraçada toda forma de existência e vivência. Não há nada que recear pois como disse Nietzsche, “é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante”.