https://www.reddit.com/r/lifeisstrange/comments/g6t4kq/no_spoilers_hanged_flowers_by_velinxi/
Hoje estive jogando “Life is Strange”, e tive a impressão de que eu voltava à faculdade. Sim, pois a minha rotina de estudos, como a de todo mundo, foi arrebatada e agora, em casa, tenho que me debater com as escolhas entre o que ler, o que aprender e o que esquecer. Entrar na rotina de Max Caulfield (mesmo sobrenome que o protagonista de O Apanhador no Campo de Centeio, que também estou lendo), uma jovem estudante de fotografia, me lembra que por trás desta pele e carranca ainda existe um anseio por sensibilidade.
Mas eu penso demais. Anseio, planejo e verifico demais. Não à ponto da insônia, mas quase. Não dá mais para fazer planos; é preciso aceitar e reconhecer o estado em que chegamos. Não podemos sair de casa, mas se precisar saímos (com máscaras e álcool em gel no bolso). Não precisamos do presidente, mas sem ele quem nós iríamos chamar de incompetente? De nazista? O neoliberalismo é a maior máquina de moer pobres que a humanidade já inventou, mas e se precisarmos dela (apenas a máquina, não o espírito que a move) depois que isso tudo passar? Você não precisa se matar para construir pontes se entender que pode dar novas utilidades às que já existem.
O auto intitulado “subversivode84” era o nome de um e-mail, o primeiro que já tive. Engraçado como eles nos deduram. Isso era de uma época em que ser desobediente e rebelde era algo que trazia orgulho. Eu o escolhi porque soube que esse era, junto de “comunista”, a pecha que era dada aos estudantes e resistentes nos fins dos anos 60. Veja bem, os anos 60 não acabaram: temos um representante legítimo dele no poder. Mas não é com ele que precisamos nos preocupar.
Obediência é uma virtude e na cabala tem toda uma sephirot para isso; com tantos quilômetros rodados finalmente posso dizer que entendi que nunca foi uma questão meramente de questionar toda autoridade, mas de permanecer fiel à minha verdade. Ler A Desobediência Civil de Thoreau e assistir Capitão Fantástico, entre outras coisas, é entender que entre o dizer e o fazer existe um mundo de diferença e que coerência é mais relacionada a um estado da arte do que a algum alinhamento político.
Disso se decorre que de nada adianta cair de pau naquele que já é conhecido como o “pior presidente do mundo nesta pandemia”, porque a maior parte do que vemos é apenas a espetacularização da política e nada mais. E política não é isso_, pelo menos não só isso_. Inclusive a escolha de assistir a esse show de horrores ou atentar para aquilo que acontece nos bastidores é ela mesma uma escolha política.
Max Caulfield, já nas primeiras horas de jogo, fala algo sobre ser um Herói do Cotidiano e eu meio que entendo que ela quer dizer, porque não é só o primeiro ministro ou o presidente quem fazem esforços colossais pelo bem de todos: o pai que aguenta mais um dia de incertezas e a mãe que suporta as dificuldades. O filho, também, que se comporta e que segura a barra mesmo sem saber que o faz; todos eles são heróis porque fazem atos cotidianos de heroísmo.