os policiais brasileiros, por exemplo, cujos suicídios já superam as mortes em ação por bandidos), mas, claro, sabemos também de inúmeros casos de elaborados suicídios usando elementos não-letais (como do da Virginia Woolf que encheu seu bolsos de pedras e entrou em um rio). É possível até afirmar que existem dois tipos de suicidas: suicidas em potencial, que persistem, por assim dizer, na ideia de concretizar a própria morte, e aqueles que apenas em um momento de muita dor, em um impulso cego, decidem tirar a própria vida (e é possível que uma mesma pessoa seja dada às duas tendências). Em última instância todos eles são suicidas, mas o último pode ser prevenido com mais facilidade que o primeiro. O primeiro, embora mais profundamente convencido de que deseja se suicidar é, talvez, o mais provável de nunca o fazer. Isso porque ele se acostuma com sua dor e porque aprende a colocar mais um dia à frente de sua data fatal. E em termos de políticas públicas o segundo tipo de suicida pode ser prevenido, mas não o primeiro. O primeiro tipo, em termos de filosofia, não tem uma “solução definitiva” e provavelmente vai ficar assim mesmo.
Cento e trinta e cinco. Apenas um número, decerto, mas quando observo em mim os efeitos devastadores das perdas de amigos próximos, entendo finalmente, com toda a sua magnitude, o significado deste número. Cento e trinta e quatro pessoas sofrendo como eu, imagina, escrevendo textão. Com cento e trinta e cinco pessoas já encheríamos um grupo de whatsapp, começaríamos um negócio, mudaríamos o mundo. Mas não, estamos em luto, um luto permanente, como uma nuvem que nunca se dissipa, nos lembrando de cada um destes amigos perdidos: um universo em si mesmo. E quando finalmente trago (tento pelo menos) à luz as causas destas perdas tão prematuras vejo que tudo parece algum tipo de suicídio, mesmo sem evidências ou explicações. Não paro de pensar em como, nem por um minuto, buscando razões. Para mim cada um deles era um sol brilhante e agora está irremediavelmente apagado. Alguns realizaram o ato de uma vez, como o Danilo, Kleber e o Leuzimar, enquanto outros o fizeram aos poucos ao longo de anos de negligência contumaz consigo mesmo, como o Gnomo. E a todos eles eu dedico minhas orações e meu silêncio, minhas palavras e meus melhores pensamento. Gostaria de ter uma sacada genial aqui para trazer alguma relevância e um ponto de vista ainda inexplorado sobre este assunto mas a verdade é que um cego não pode guiar outro cedo e do mal que os atingiram eu nunca vou me dizer imune; é preciso se cuidar, no entanto, mesmo que seja apenas para cuidar dos outros.